quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sagrado e Profano

A tendência do Ser Humano é profanar o sagrado.
O sagrado é o normal, o natural, o criado por Deus. O sagrado não é o separado em razão de o não sagrado ser a normalidade.
Tudo é sagrado. O não sagrado, o profano, somente surge por consequência da profanação. Ele é posterior ao sagrado e não o contrário.
O Ser Humano, todavia, é contumaz em profanar o sagrado, e, por isso, o profano parece ser o natural e o sagrado é o que se consegue 'separar' da profanação.
TUDO é sagrado, e nós temos a 'competência' de profanar tudo: comida, sexo, relacionamentos, corpo, natureza, tudo.
Mas a profanação nunca aparece de forma grotesca, ela sempre acontece de forma gradativa e aceitável, como sendo 'a melhor opção', 'a melhor escolha'.
Quando vemos, aquilo que era uma boa ideia já se tornou profano e não percebemos.

O episódio de Jesus expulsando os comerciantes do templo em João 2:12-25 é peculiar nesse sentido.

O templo foi construído e os vendedores não entravam nele.
Depois, pareceu ser uma boa ideia permitir que se vendessem os animais 'para ajudar' o povo.
Depois, pareceu ser mais coerente e 'bom' que as vendas acontecessem dentro do templo, pois, qual a diferença entre comprar fora ou dentro do templo? Sempre há bons motivos para qualquer coisa.
Até que o que era 'bom' profanou completamente o sagrado.

E fazemos isso em qualquer área.
Temos relacionamentos descartáveis; sexo é sinônimo de felicidade; comemos sem nem sequer perceber o que temos no prato. E isso apenas para ficar em alguns exemplos.
E, em relação à comida, parece que esquecemos que Jesus se revelou no partir do pão para os discípulos em Emaús. Esquecemos que a grande celebração cristã - a ceia - é o momento de comensalidade e partilha ao redor da mesa.

Sempre temos de estar atentos ao que fazemos de 'bom' e se o 'bom' não é, na verdade, a profanação do sagrado. E isso em qualquer área da nossa vida.
E o que sela definitivamente a profanação é quando a 'verdade' criada se impõem com a frase: "Isso sempre foi assim!"

Essa frase deve sempre se analisada com cautela e verificar o que queremos assumir/impor como 'verdade', pois NADA NUNCA 'sempre foi assim'.

Depois de expulsar os comerciantes, estes questionaram Jesus.
Mas a consequência da nossa acomodação com o profano nos faz negligenciar por completo o que Jesus diz.
A reação normal dos comerciantes contra Jesus seria a de um linchamento, já que a pergunta que fizeram denota tal ira: Você fez isso a mando de Deus? Prove!
A resposta de Deus é tão absurda diante da nossa compreensão profanada do sagrado que a desconsideramos completamente, como sendo dita por um lunático.
E foi isso o que ocorreu.
Não lincharam Jesus, não compreenderam sua resposta, e nem mesmo os discípulos a entenderam, pois o texto indica que somente compreenderam o que aquilo tudo significava depois que Jesus ressuscitou.

E o texto ainda afirma que muitos creram nele.

Mas Jesus não acreditava neles, pois conhecia a natureza humana.

Com Pedro foi assim! Ele disse que não abandonaria Jesus, mas sabemos o que ocorreu. E sabemos o que Jesus fez.

E ainda é assim conosco!

Temos a 'competência' de sermos incompetentes com a nossa manutenção do sagrado. Sempre profanaremos a criação de Deus.

Mas a questão maior é que Deus não deixa de ser Deus e se dirigir a nós por causa disso.
Ele sabe, mas isso não impede o Seu relacionamento conosco.

Ele conhece o que somos, quem somos, o que fazemos, o que desejamos, mas ainda, apesar de nós, veio e tabernaculou conosco.

Essa é a esperança.