terça-feira, 29 de julho de 2008

Poesia - Mario Quintana

REPARA como o poeta humaniza as coisas:
dá hesitações às folhas, anseios ao vento.
Talvez seja assim que Deus dá alma aos homens...

Mário Quintana. (in Ricardo Gondim)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Devocional - Felicidade

Ontem assisti ao filme Em Busca da Felicidade (ou aqui)e como já havia lido sobre isso no site do Ricardo Gondim e conversado com Nilson, Leandro e famílias em um jantar recente, bem como também tenho buscado a felicidade, passo a tecer alguns comentários para mim e àqueles que também a buscam.

Não acredito nessa história de me esforçar e chegar lá. Há mais variáveis não controláveis nesse meio que tornam o "chegar lá" quase que um acaso.
Também, não quero simplesmente vincular felicidade com dinheiro, status, ou qualquer coisa material. Não vejo o filme apenas dessa forma. Em várias partes o protagonista diz "esse momento de minha vida eu chamo de ...". E após ter conseguido o emprego, ele diz, "esse breve momento, eu chamo de felicidade."
Interessante que nossa busca da vida inteira seja apenas para desfrutar um breve momento de felicidade.
Logo após esse filme fiquei zapeando os canais e terminei por assistir ao final do filme Peixe Grande. Outro filme que apresenta uma interpretação sobre felicidade.

Impossível, ainda, nessa busca sobre felicidade, não se deparar com o que o Evangelho de Mateus indica ser a felicidade (Bem-Aventurança).
A grande questão, para mim, é que a felicidade que buscamos quase sempre está relacionada à satisfação pessoal (pessoal aqui em dois sentidos: minha e para mim).
Talvez seja por isso que a felicidade se torna tão breve.
Talvez seja por isso que ao 'acharmos' a felicidade ela desaparece de nossas mãos e voltemos a buscá-la no próximo monte que idealizamos subir.

Mas não pode ser assim.
Tudo bem que a dúvida faz parte de nós e temos de confirmar e reconfirmar as nossas certezas, mas a felicidade é algo que dificilmente dizemos ter encontrado, mesmo já dela tendo desfrutado.
Deve haver um modo de tornar a felicidade apartada das conquistas, interiorizá-la, fazê-la parte de nós e torná-la mais perene do que um breve momento.
Minha contribuição para tanto é, penso eu, melhor esclarecer felicidade definindo-a por contentamento.
Contentamento é entender sua vida como dádiva e graça, e, dessa forma, viver não mais olhando para si, mas desfrutando do que lhe foi concedido, do que já alcançou, e ao lado dos 'próximos' que estão próximos.
Não é deixar de sonhar e buscar (seja lá o que nos impulsiona a sonhar e buscar), mas, utilizando a fidelidade de Vinícios para expressar a felicidade, 'viver em cada vão momento, com seu pesar ou seu contentamento'.

Se a felicidade estiver vinculada à perfeição, à ausência de dor, ao pessoal (meu e para mim), então não há como ela não ser fugaz, não há como ela não ser uma eterna busca por breves momentos.

Não há, igualmente, como a felicidade não ser busca, mas deve ser um buscar achando, e um achando mais constantemente.
Ao perseguir a felicidade, ainda consigo aceitar a busca, e mesmo a brevidade do êxtase da felicidade, somente não consigo aceitar o perder a felicidade.

Jesus diz quem são os MAIS FELIZES (Bem-aventurados) (Mateus 5: 1-16).
Esses são os que buscam, mas a busca extrapola o pessoal (meu e para mim). Essa busca vai além da alegria pessoal, vai além da dor, vai além da própria vida como algo a que se deva apegar.
Os MAIS FELIZES são os que buscam e continuam buscando, e lhes são concedidos êxtases na busca que não lhes permitem parara de buscar, mas compreedem que já encontraram e que continuam encontrando e que o encontro perdura na vida e no tempo.
A busca da felicidade parece ser, enfim, a busca pela prática da doação, pela prática da existência pessoal no próximo. Não mais meu e para mim, mas, a existência do eu somente no dele e para ele.
O contentamento é compreender que o dele e para ele, que o próximo, não está tão longe nem é tão desconhecido assim, mas é o integrar-se à vida que vivemos de forma a perceber suas minúcias e se contentar (ficar contente, ficar feliz, bastar) na vida que se leva. Não é jamais 'deixar a vida me levar', mas integrar-se à vida para viver levando a vida e bastando para poder sonhar em levar vida e bastar-se aos próximos.
Henri Nouwen é um dos autores que gosto de citar nesse contexto.

Então, como no final do filme Peixe Grande, alcançamos nossa busca e nos tornamos aquilo que buscamos ao fazermos real nossa busca em cada vão momento para os outros.

Continuo a busca, mas com novas lentes, as quais têm me feito compreender que são MUITO FELIZES aqueles que buscam a felicidade na busca de contentamento real e para agora, não mais no pessoal mas essencialmente no próximal (dele e para ele).

terça-feira, 15 de julho de 2008

Indicação - ATRIBULAÇÕES DE UM CHINÊS FORA DA CHINA

ATRIBULAÇÕES DE UM CHINÊS FORA DA CHINA
João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Honorável primo Chu Agradeço a carta e as notícias. Espero que tudo continue bem aí em Beijing. Como passa a tia Ma? Por cá as coisas andam prósperas. Com os estrangeiros daqui em crise, é bom para a nossa loja e restaurantes.Quanto às perguntas que me faz acerca dos ocidentais, tem toda a razão em estar preocupado com os Jogos Olímpicos que se aproximam. Tenha muito cuidado, porque os narizes compridos só dizem mentiras. Falam muito em liberdade e querem ensinar a todos o que ela é, mas só conhecem as liberdades que não interessam. Faltam-lhes as realmente importantes.Andam muito orgulhosos por poderem escolher os chefes e dizer mal deles. Como acham que nós não dizemos, consideram-nos oprimidos. Mas não têm liberdade para vender, comer, guiar, despejar lixo e mil outras coisas. É proibido fumar cigarros, cortar árvores, fazer barulho. Vendem só a certas horas e em certos sítios. Não se pode trabalhar à noite ou quando se é velho. Nem imagina o que eles exigem para se andar de carro (por exemplo, um colete verde!!). Proíbem muitas comidas, das nossas ou mesmo das que eles sempre comeram. Ficam fulos se não dividimos o lixo. Até querem controlar a maneira como se escreve. Tudo tem regras, imposições, limites. Sobretudo papéis. Muitos papéis. Chamam a isto progresso e liberdade.O Fu diz que a vida na terra dos narizes grandes é como a que tínhamos no tempo do Camarada Mao. Eu achava exagero (sabe como é o primo Fu...) mas um dia vi que tinha razão. Vieram ao restaurante alguns guardas vermelhos armados. Diziam ser fiscais da economia, mas senti aquele mesmo medo da revolução cultural. Viram tudo, inventaram multas por nada, ralharam e levaram preso o tio Deng.Como no tempo do Camarada Mao, os ocidentais passam horas em doutrinação política. Aqui é em frente à televisão. Um deles disse- -me que era muito diferente da China, porque não é doutrina, mas notícias e debates (exactamente como lhe chamavam os comissários do povo), e porque se pode escolher aquilo que se ouve. Ao princípio acreditei, mas depois vi que não há escolha. Todos dizem o mesmo. E querem eles ensinar-nos liberdade!Como vai ter narizes grandes em Beijing, precisa conhecê-los. Diz-se que só pensam em dinheiro, mas isso também nós. A diferença é que, além da tal liberdade, eles adoram três coisas: papéis, saúde e sexo. Quando aos papéis, já lhe expliquei: há papéis para tudo. Não sei se foi boa ideia termos-lhe dado essa nossa invenção. Depois andam sempre aterrorizados com a saúde. Gastam imenso dinheiro em médicos e remédios, mesmo quando não estão doentes. Para eles tudo -comida, sexo, trânsito, desporto- é um problema de saúde. Andam loucos com o corpinho. Depois morrem como toda a gente.Quando não é papéis ou médicos, é sexo. A coisa que mais os cega é sexo. Aqui as mulheres deles andam quase nuas na rua (cuidado com as primas!!). Cega-os porque não o entendem. O sexo deles não é para ter filhos, mas para vender sabonetes. Não é para ter família e ser feliz, mas para trair, zangar, ter sarilhos. Chamam-lhe liberdade, claro!Liberdade! Nem fazem ideia o que seja! Também não sabem o que é honra, respeito, dignidade. Escolhem os chefes (embora, como aí, os que mandam sejam sempre os mesmos), mas logo a seguir começam a dizer mal deles. Só querem a liberdade de criticar porque odeiam os chefes. Odeiam muito mais que nós. Nunca vi um povo odiar tanto. Quem diz pior do Ocidente são os jornais ocidentais (se ler o que dizem da China, farta-se de rir porque eles não sabem nada).Descobri um truque que lhe pode ser muito útil: nas discussões com eles é fácil pô-los a gritar entre si. Quando criticarem a política do filho único, diga-lhes que têm menos os filhos que nós. Se acusarem a pena de morte, acuse a eutanásia e o aborto. Se falarem no Tibete pergunte-lhes pelo Iraque. É que eles além dos chefes, odeiam o sistema (dizem sempre que está "podre"), odeiam a vida, odeiam-se a si mesmos. Este povo adora dizer mal de si próprio. Chamam-lhe liberdade.Saudades do primo Guo.

O crédito do achado é do André Egg.
O link da crônica é do Diário de Notícias de Portugal.